quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Amor morreu

Colocou seu traje preto, o mais preto que tinha, o menos desbotado possível. Ajeitou os cabelos em um longa trança que lhe descia o ombro e fazia ver seu rosto triste. Na noite anterior fora acordada por um pequeno grupo de senhoras da cidade. Senhoras que, agora como ela, tinham o rosto triste e o olhar vazio. Despertou no primeiro toque. Não precisou abrir a porta para saber. O Amor estava morto.

E tudo que tinha ganhado sentido e forma na presença daquele Amor, não existia mais. Ela não existia mais.

Suspenso por um segundo, as cores perderam o tom, o que antes refrescava era agora aridez e poeira.

As senhoras, que nada disseram ao entrar, aqueceram água e ajudaram a escolher suas roupas. O lamento da morte ecoou pela sala. O Amor está morto. O dia que vinha dar fim a longo madrugada anunciava o momento. O Amor está morto.

Todos os brilhos que o Amor dera aquela moça morreram com ele. Os cabelos, seus olhos, seu corpo, nada mais tinha vida. O único movimento presente era o das lágrimas que caiam. O coração já não batia, o desejou morreu com o Amor.

A porta abriu. Doía. O dia estava quente e silencioso. O vento parou de soprar em respeito à moça. Falta de ar. Falta de ar.Falta de ar.

Amparada pelas senhoras, portadoras da sina de continuar vivendo em um corpo morto, a moça seguia o pequeno cortejo que se formará. De moças e velhas, de amantes e senhoras, de virgens e mortas. Todas solidárias a moça que perdeu seu Amor.

Porque todas elas sabem que uma mulher nasce duas vezes, uma quando chora pra vida, outra quando ama. Porque todas elas sabem, nas noites de lua, no silêncio do quarto, que o sentido da vida está no Amor que se sentem. A moça também sabia, e sabia também que, por isso, havia morrido naquela noite.

Porque quando se encontra um Amor que é seu e lhe faz chorar, e esse Amor parte, nenhum outro é possível, nada mais importa.

A cada passo, menos ar.

As mulheres olhavam para o chão de pedras cinzas, uma música fúnebre tocava em seu coração. Não sentia dor. Não sentia mais nada. O Amor estava morto. Ela também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário